Esta obra de Juan de Valdés Leal faz par com In Ictu Oculi (Num piscar de olhos) na ornamentação da entrada da capela do Hospital de São Jorge em Sevilha. Ambas foram encomendadas pela confraternidade leiga da Irmandade da Caridade, Sevilha/Espanha — local de descanso para os idosos e um cemitério para os pobres.
Ele se baseou no texto de Miguel Mañara: “O ser humano tem que se decidir entre buscar a salvação ou a condenação eterna, ciente de que somente os que praticarem boas obras de caridade terão acesso à salvação eterna.”
Em Finis Gloriae Mundi (O Fim da Glória Mundana) o artista apresenta corpos em decomposição, um bispo e um cavaleiro da Ordem de Calatrava, como era Mañara. Representada no topo por uma mão chagada, a Justiça Divina segura uma balança com as inscrições “nem mais”, “nem menos”. A morte encontra-se deitada ao fundo, observando a balança que desce para julgar as boas e as más ações que cada um fez na Terra.
No prato da esquerda, os pecados capitais representados por animais simbólicos (pavão: orgulho; morcego em cima do coração: inveja; cão: raiva; porco: gula; cabra: ganância; macaco: luxúria e preguiça: preguiça) proclamam que não é preciso mais para cair em pecado capital; nem se necessita de menos para sair dele procurando seguir a prática da oração e a penitência, representadas pela disciplina, pelos rosários e livros devotos que vemos no prato da direita.
Apesar da glória e da riqueza, o homem sabe que seu único fim é a morte.
Esta pintura é um memento mori, pois se destina a lembrar ao observador sobre a transitoriedade da vida terrena e sobre a universalidade da morte. O artista descreveu esta obra como sendo “hieróglifos da nossa vida após a morte”. A implicação é que a salvação na vida após a morte é primordial dependendo do aqui e do agora e só pode ser alcançada através da caridade. Este é um tema recorrente no barroco que recebeu o nome de Vanitas (Vaidade) e tem como objetivo mostrar a brevidade da vida em contraste com os prazeres mundanos.
Ficha técnica
Ano: 1667/72
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 220 x 216 cm
Localização: La Caridad, Sevilha, Espanha
Juan de Valdés Leal

O pintor e gravador barroco espanhol Juan de Valdés Leal (1622 – 1690) era filho de um ourives português e de uma sevilhana. Não existem informações sobre sua formação. Presume-se que tenha sido aluno de Antonio del Castillo Saavedra em Córdoba. Possuía uma oficina em sua casa, ali realizando seus primeiros trabalhos.
Com o surgimento da epidemia de cólera em 1649, o artista mudou-se com sua família para Sevilha onde angariou uma boa clientela, ainda assim sua precária economia acompanhou-o pelo resto da vida. Juan de Valdés Leal possuía um estilo barroco tendendo para o tenebroso. Em seu estilo dramático, ele valorizava mais a expressão do que a beleza. Sua arte possuía um desenho forte, uma cor brilhante, uma sensação de movimento e uma iluminação dramática. O artista é tido, ao lado de Murillo, como um dos mais renomados representantes da pintura barroca na Espanha.
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