É verdade que as pessoas veem uma luz branca quando estão morrendo?

Veem, sim. Aquela luz branca intensa é um túnel que conduz aos anjos no céu. Obrigada pela pergunta.

A verdade é que não tenho uma explicação definitiva para o motivo de algumas pessoas verem uma luz branca quando estão à beira da morte. Na verdade, ninguém tem uma explicação definitiva até agora. As pessoas religiosas podem ver a luz como uma portal sobrenatural para a vida após a morte; os cientistas podem ver a luz como algo causado pela privação de oxigênio no cérebro.

O que sabemos é que essas experiências estranhas acontecem.; há muitos relatos em todo o espectro religioso e cultural para que não sejam reais. Pessoas que sobreviveram a situações traumáticas de ameaça à vida compartilham uma série de experiências sinistramente similares, que a comunidade científica chama de experiencias de quase morte, ou EQM. Por mais assustadoras que sejam, as experiências de quase morte nem são assim tão raras. Cerca de três por cento da população americana diz ter tido uma. Esse número foi ainda maior (dezoito por cento) num estudo feito com pacientes de um hospital da terceira idade.

É importante lembrar que nem todas as experiências de quase morte são iguais. Nem todo mundo se vê andando na direção de uma luz branca forte enquanto cenas de animais de estimação da infância e entrevistas constrangedoras de emprego passam na frente dos olhos das pessoas. Em um estudo, cerca de metade das pessoas que tiveram uma EQM disseram que estavam perfeitamente cientes de que estavam mortas (o que pode ser bom ou ruim, depende do quanto a morte não incomoda você). Uma em cada quatro pessoas disse que teve uma experiência extracorpórea. Só uma em três chegou a se deslocar pelo tal túnel. Além disso, uma má notícia: imaginamos as EQMs como sendo positivas e tranquilas, mas isso só foi verdade em metade das vezes. Acontece que a experiência também pode ser apavorante.

Especialistas acreditam que experiências de quase morte aconteceram nas culturas por toda a história da humanidade: no antigo Egito, na antiga China, na Europa Medieval. Essas culturas (e incontáveis outras) têm histórias de experiências religiosas que correspondem de forma quase exata a experiências de quase morte. Isso leva a um dilema interessante do ovo e da galinha. As experiências de quase morte são um tipo de experiência religiosa universal? Ou as experiências religiosas são causadas pela ação do cérebro humano, neurociência e biologia básicas?

A configuração – ou a energia, se você quiser – da EQM de um indivíduo também pode ser determinada pela sociedade na qual essa pessoa vive. Por exemplo, pessoas cristãs dos Estados Unidos podem encontrar anjos que as recebem no túnel, enquanto hindus podem encontrar alguém enviado pelo deus da morte. Gregory Shushan, um pesquisador da Universidade de Oxford, escreveu sobre relatos amplamente diferentes de EQMs, com o elenco todo retirado da cultura da pessoa: “Eu me lembro de uma pessoa descrevendo Jesus na forma de um centauro puxando uma carruagem; e de um homem cujo coração estava batendo fora do peito, cujo cabelo tinha a forma de um chapéu de bispo”.

O que torna mais difícil para a comunidade científica estudas as EQMs é que não é preciso estar próximo da morte para ter uma experiência de quase morte. Pesquisas da Universidade de Virginia descobriram que pouco mais da metade dos pacientes que disseram ter experimentado uma EQM não corria risco médico. A morte, no fim das contas, não estava tão próxima assim.

Vamos falar então de potenciais explicações (científicas) para o motivo de essas experiências acontecerem. Se você é neurologista, é provável que explique as EQMs usando linguagem empolada e confusa, como ‘integração multissensorial corporal perturbada’. Outras explicações incluem endorfinas liberadas no cérebro, dióxido de carbono em excesso no sangue do paciente ou aumento de atividade do lobo temporal.

Mas vamos procurar uma explicação mais simples e olhar para outro grupo de pessoas que passam pelo túnel de luz sinistro: os pilotos de caça. Voar em altas velocidades pode provocar uma coisa chamada síncope hipotensiva, que acontece quando não há sangue e oxigênio suficientes chegando ao cérebro. Quando isso acontece, a visão do piloto começa a apagar, e nas beiradas primeiro – criando a experiência de estar olhando por um túnel luminoso. Parece familiar?

Cientistas acreditam que ver essa luz no fim do túnel é resultado de isquemia retinal, que acontece quando não há sangue suficiente chegando ao olho. Quando menos sangue flui para o olho, a visão é reduzida. Estar em um estado de medo extremo também pode causar isquemia retinal. Tanto o medo quanto o declínio de oxigênio são associados à morte. Nesse contexto, a visão extrema de um túnel branco característica das EQMs começa a fazer mais sentido.

Quem é religioso pode acreditar que Deus (ou deuses) é capaz de coisas mágicas. Mas cientistas (até os que acreditam em Deus) também acreditam que o cérebro é capaz de fazer as coisas parecerem mágicas. E acreditam que é a biologia que dá forma aos nossos momentos finais. Não sou religiosa, mas sou cem por cento a favor de um Jesus centauro puxando uma carruagem e vindo me buscar para a minha descida até a morte.

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